sexta-feira, 18 de maio de 2012

Adendo ao texto "Ideologia da liberdade e liberdade de ideologia"

Fonte do desenho: http://luizreginaldo.blogspot.com.br/2011/09/caracteristicas-gerais-do-que-e.html


Foi noticiada uma tese do primatologista Frans de Waal no sentido de que os humanos podem ser naturalmente pacíficos, ou que, ao menos, não há comprovação científica de que somos naturalmente violentos.

Como os assíduos leitores do blog sabem (uns dois ou três), o texto "Ideologia da liberdade e liberdade de ideologia" trata sobre as distinções filosóficas quanto à origem do homem e sua natureza, sendo que a partir dessas há as mais diversas construções ideológicas, quase sempre colidentes nos campos político, econômico e social. Defendi, naquele texto, que, por falta de comprovação científica acerca das nossas origens, há espaço para toda sorte de construção filosófica e, consequentemente, ideológica.

A partir dessa tese lançada recentemente, julgo que me aproximei da melhor resposta sobre tal tema: por falta de cientificidade, não há falar em melhor compreensão histórica da nossa natureza, seja para que lado for nossa convicção.

Podemos ter a liberdade de escolher nossas versões da história, mas jamais poderemos ter a arrogância de supor que conhecemos uma versão superior.

Deste modo, quando se debatem ideologias, cujas origens derivam do fenômeno "natureza humana", realiza-se um exercício de manifestação dogmática, em que ambas as partes já possuem como pressuposto deterem a melhor concepção de mundo, bastando-lhe convencer outrem de seu achado.

Ora, se somos incapazes, instrumentalmente, de medir qual é, de fato, a nossa natureza, se essencialmente boa ou má, não podemos julgar que uma ideologia seja superior à outra, sendo que ambas são construídas a partir de visões filosóficas diferentes acerca de nossas origens. Ou seja: o que faz construir a ideologia política, econômia e social, é uma tese filosófica que não passa de suposição, não amparada por evidências, independente do rumo tomado. É claro que não é possível exigir cientificidade de filosofia, considerando tratarem-se de epistemologias diversas. Entretanto, sobre a política, economia e sociologia constroem-se, ou pretendem-se, ciências! Porém, sob suas enormes construções, há uma frágil base, num prisma científico.

Sabemos bem que, se a base não é boa, a edificação tende a ruir. E quanto maior o prédio, maior o desastre...

Devemos jogar a toalha? Devemos abandonar o estudo político, econômico e social?

Evidentemente que não! Contudo, não há nada errado em colocar os pingos nos is. Retirando a cientificidade indevidamente atribuída a esses campos do conhecimento, talvez se construam escolas de pensamento mais honestas e menos comprometidas com interesses políticos, eleitoreiros e de grupos sociais.

Ao mesmo passo, não devemos abandonar o estudo antropológico, histórico e arqueológico, a fim de que busquemos as pistas para solucionar essa questão primordial da filosofia que tanto nos inquieta.

Outras questões que surgem são as seguintes: necessariamente temos de retomar a nossa natureza primordial? Não podemos ter uma mudança de postura a partir de um desenvolvimento cultural? Até que ponto é negativa nossa metamorfose comportamental?

Dependendo das respostas, teremos outras escolas filosóficas e, assim, ideologias que se assentarão, conforme a via escolhida.

Em síntese, ao que parece as ideologias invariavelmente são meras escolhas, independentemente de bases científicas. Sendo a tomada de escolhas uma atitude que cabe à individualidade, não podemos, então, considerar que é possível encontrarmos uma saída objetiva para tal questão.

Assim, seguimos com liberdade de ideologia, em que pese a ideologia da liberdade jamais poder ser definida com precisão.

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