terça-feira, 24 de abril de 2012

Barcelona espantoso





Que time fabuloso esse Barcelona atual! Não posso escolher outra frase para iniciar a presente crônica sobre a desclassificação do time catalão, na recente terça-feira, 24/04, diante do bravo Chelsea, em jogo válido pelas semifinais da Champions League.

Muitos poderiam pensar que eu cheguei a um grau extremo de insanidade ao tecer elogios dessa natureza a uma equipe derrotada. Danem-se, tais críticos! O fato é que somente um time espetacular é capaz de ser o protagonista inclusive em seus momentos mais frágeis. Sim, pois o Barcelona deteve a posse da bola em 73% do tempo jogado. Em um universo de 90 minutos, isso equivale a ter o controle da bola em 65 minutos e meio (essa é a proporção; é evidente que se fôssemos contar as bolas paradas teríamos menos tempo de jogo e, portanto, menos tempo de posse de bola).

Entretanto, nem é isso o que mais espanta. O que efetivamente assusta é o fato de que todas as pessoas sãs deste mundo, e que admiram o futebol, consideravam a desclassificação do Barcelona algo absolutamente surpreendente, constituindo em zebra (jargão clássico do futebol, quando uma equipe considerada bastante inferior ao oponente o vence) uma eventual vitória do Chelsea. E é por isso, justamente por essa consideração unânime, que o resultado desta partida trouxe tanta surpresa, podendo ser verificada através de uma análise dos perfis de Facebook e Twitter de todo o mundo, os quais comentaram incessantemente a respeito. Assusta, sim, pois não estamos falando de Barcelona versus XV de Jaú, mas do Chelsea, uma equipe não muito tradicional num plano histórico, é verdade, porém investida de uma enxurrada de valores econômicos oriundas de um empresário megalomaníaco, o qual tornou tal equipe em uma das grandes forças mundiais, que desde o início do presente século tem disputado fervorosamente os títulos. E quando tratamos de equipes fortes, e de futebol, não poderíamos considerar inaceitável a hipótese de que uma destas derrube a outra. Em tese, deveríamos ter a prudência de analisar o confronto sem arriscar um favorito. Repito: em tese! Quando falamos do Barcelona atual, todas as teses são destruídas, cabendo aos teóricos a compreensão do novo paradigma instaurado por esta equipe, para que possam, assim, organizar suas anotações a fim de refundarem suas teses. Só este time é capaz de causar espanto: tanto pelo que produz em campo quanto por uma eventual queda. Hoje, surpreendentemente, foi o dia da queda!

Ao analisarmos a partida (gravei o jogo, por impossibilidade de assisti-lo ao vivo. Analisei-o, portanto, sabendo do resultado), vemos que a equipe inglesa desistiu por absoluto de um esquema tático propositivo, mantendo seus 10 jogadores – após a expulsão do Terry, 9 – dentro ou em frente à área, formando um cinturão quase que intransponível. De novo, estamos falando de Chelsea! Trata-se de um timaço! Porém, é um timaço que tem a humildade de reconhecer a colossal inferioridade diante de um dos maiores times da história. Logo, acertadíssima a escolha do Di Matteo, técnico do Chelsea, em manter a equipe completamente defensiva, pois só assim é possível tomar o mínimo possível de gols. Sim, porque mesmo assim o Barcelona conseguiu por duas vezes chegar ao gol dos ingleses! Sem contar uma dezena de chances desperdiçadas pelos catalães, incluindo-se o pênalti desperdiçado pelo irreconhecível Messi – este, sim, muito aquém da sua normalidade, a qual, diga-se, é a anormalidade, a genialidade. Os gols do Chelsea, por sua vez, nasceram da casualidade, da vontade dos deuses. Em um raro momento de troca de passes, nasceu o primeiro gol do time inglês, em um lance à la Messi de Ramires, encobrindo Victor Valdés com um toque sutil na redondinha. O segundo gol, aquele que sepultou de vez o sonho dos espanhóis, nasceu de um balão desesperado do zagueiro para a frente, que casualmente encontrou Fernando Torres, livre, leve e solto, para que o centroavante driblasse o mediano – e extremamente abaixo dos companheiros de equipe, em qualidade técnica – goleiro do Barcelona e anotasse o tento. O resto da partida foi de um sufoco atroz imposto pela máquina de jogar futebol catalã, em um jogo de ataque contra defesa, com os craques fazendo rodar a bola em frente à área, procurando um espaço qualquer dentro desse bolo de “9 zagueiros” do Chelsea.

Imagino que deva ser de extrema complexidade criar lances de gol em uma situação dessas. Algo que só uma equipe como o Barcelona tem a capacidade de enfrentar! O que não foi o caso nesta terça-feira, mas que poderia ser em qualquer outro momento. Está certo que o time catalão não foi tão criativo como de costume, bem como demonstrou certo afobamento, principalmente no 2º tempo, mas, convenhamos, a dificuldade de penetrar uma área composta de 9 jogadores é absurda!

Aliás, é necessário dar a devida atenção para isso: o Chelsea jogou com todos os jogadores na defesa! Reitero: pô, é Chelsea! Não Íbis!!! Só esse fato demonstra o que significa o Barcelona de Messi, Xavi e Iniesta. Há vozes que começam a considerar a hipótese de que o ciclo de glórias se esgotou, baseando tal argumento nas 3 últimas partidas, em que o Barcelona acabou derrotado em duas e empatando nesta última. Ora, a minha tese é de que só poderá ser tido como desbancado esse time no momento em que as equipes adversárias conseguirem controlar a partida, com mais posse de bola, chute a gol etc. No atual estágio das coisas, as derrotas desta equipe se dão tão-somente por fatores fortuitos. Não há, ainda, uma quebra de paradigma! Ninguém neste mundo conseguiu ser efetivamente superior ao Barcelona, em que pese uma ou outra equipe ter obtido vitória em determinado confronto direto.


Estamos no século XXI, tempo de tecnologias avançadas e de futebol extremamente competitivo, cujo vigor físico só se eleva, dificultando a distinção técnica. E, espantosamente, o time catalão vive esse momento de uma forma tão soberba que parece ser de outro mundo. Ele é tão superior aos demais que acabamos esquecendo tratar-se de futebol, o esporte praticado por este time! O bom do esporte bretão é que ele nos lembra da sua natureza improvável em momentos como esse: nas quedas de um time tão assombroso!


4 comentários:

  1. excelente texto caro amigo mais uma vez o barcelona causa este assombro
    este barcelona que mais do que nunca se firma entre os melhores times de todos os tempos por sua genialidade dentro dos gramados


    Deivisson Dias

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    1. Obrigado, amigo!

      Acredito que este time do Barça esteja entre os 5 maiores esquadrões da história do futebol, no mínimo...

      Abraço!

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  2. Vide Barcelona X Inter de Milão em 2010.
    Com a axpulsão de Thiago Motta, foi um jogo de ataque contra defesa,com nove zagueiros jogando em um quarto do campo. Uma linha com cinco defensores mais a frente, tendo como ala esquerdo de defesa o famoso zaqueiro Samuel Eto'o. Foda, né? Logo atrás, uma linha de quatro imensos zagueiros de ofício. O gol de Piquet, no segundo tempo, ocorreu apenas após a substituição de um jogador da linha de frente por um quinto zagueiro de ofício, no caso, o Córdoba! Pasmem! Inter de Milão com cinco zagueiros e quatro outros jogadores fazendo essa função uma linha a frente. Por muitos momentos, o jogo dessa semana me parecia um replay de 2010.
    Bom, cada um com sua estratégia (vide nosso WAR), jogo é jogo, guerra é guerra. Mais uma vez, isso se comprovou. Porém, são estratégias que simplesmente abdicam da posse da bola, o uso dela. Gostaria de ver o Barcelona deixando o adversário um pouco mais com a bola, tendo a obrigação de atacar...agora, é um time de muito peito e coragem; não tem medo de atacar e simplesmente faz qualquer (veja bem, qualquer) adversário assistir ao jogo tendo praticamente todo o tempo a preocupação de se defender e deixar o torcedor ridiculamente estressado, como um ocvarde sem a mínima chance de gritar ou reagir. Gostaria de escrever mais sobre isso, mas acho tu o faria mehor do que eu. Eu um próximo post! Grande abraço! Parabéns!

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    1. Excelente relação, Bruno! O Drogba, pelo Chelsea, fez a função que o Eto'o exerceu com a Inter. A mesmíssima função! E é exatamente essa a sensação que deve causar ao torcedor de uma equipe adversária ao Barcelona: uma absoluta impotência diante de um inimigo infinitamente superior! É uma luta aos moldes de Davi e Golias. Assim como no mito bíblico, Davi teve o seu dia de sorte e derrubou o gigante...O que não tira de Golias toda a sua força, potência e soberba! Esse é o Barcelona...Espantoso! Abração e muito obrigado pelo belo post! Esse é o objetivo do blog: produção de ideias e diálogo construtivo!

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