Michael Collins - astronauta americano e tripulante da Apollo 11, que não pisou na Lua |
A sociedade humana
reserva poucas vagas para o protagonismo, conforme se verifica em uma
observação atenta de nossa história. Isso se explica, em grande
parte, pelas diferenças naturais entre os indivíduos, sendo que, dentre todos, apenas alguns possuem habilidades distintas o bastante
para que mereçam um destaque, o que gera a idolatria e o grau de
influência sobre os demais. Porém, em alguns casos, o sujeito não
alcança tal destaque tão somente por detalhe, seja por azar ou por
ser, naquele momento, necessário o papel de coadjuvante, mesmo que
habilidoso o suficiente para ser a grande estrela do show.
Um dos grandes
protagonistas da humanidade foi, certamente, o astronauta Neil
Armstrong, cuja notoriedade se deu por ter sido ele o primeiro homem
que pisou na Lua. Embora, com razão, ele negasse a alcunha de herói,
inevitavelmente ele se tornou símbolo máximo da capacidade humana
para grandes feitos. Ao lado dele, porém, estiveram Buzz Aldrin e
Michael Collins. O primeiro é relativamente citado, lembrado de vez
em quando. O último, ao contrário, é simplesmente esquecido! E
isso tem explicação: Collins foi o único dos três que não pisou
na Lua. Para que o homem atingisse o feito de estabelecer suas
pegadas em solo lunar, nas figuras de Armstrong e Aldrin, era
necessário que alguém pilotasse o Módulo de Comando, o qual ficara
em órbita do nosso querido satélite, a fim de que todos pudessem
regressar à Terra.
Quer coisa mais ingrata
do que estar do lado da Lua e não poder saltitar sobre o seu solo? E
mais: com uma viagem de volta na companhia de duas pessoas que
tiveram a grande satisfação de serem os primeiros seres vivos a
realizar tal feito. Evidentemente, Collins sempre se mostrou
orgulhoso de fazer parte desta equipe e de insculpir o seu nome na
história, como um dos tripulantes da mais audaciosa viagem humana.
Porém, penso ser, em seu íntimo, bem possível que tenha havido uma
tremenda frustração por estar ao lado do pote de ouro sem que
pudesse ao menos tocá-lo. Ao mesmo tempo, é de se notar que, não fosse a
sua presença, seria impossível tal feito, sendo de indubitável
relevância a sua participação. Contudo, ao chegar na Terra, o que
ele viu foi uma coroação de seu colega Neil Armstrong, como se ele
fosse o grande e único herói da missão, a despeito dos outros dois
tripulantes e dos milhares de funcionários da Nasa que trabalharam
duro para o sucesso da viagem. Aliás, diga-se de passagem: quando
digo milhares, em relação à Nasa, são milhares mesmo! Havia
400.000 funcionários à época do voo.
Não pretendo criticar
a humanidade por buscar um protagonista para suas conquistas, mas
meramente atentar para essa característica que nos é peculiar, bem
como para o fato de que, sem os coadjuvantes, não é possível a
realização dos grandes feitos. A primeira ida do homem à Lua, em
1969, retrata perfeitamente a desigualdade humana: um brilha, um
quase brilha, um é apenas lembrado e milhares sustentam aqueles que
estão no topo da cadeia. Em proporção, espelha perfeitamente o
nosso cotidiano e o funcionamento da vida em sociedade.
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