terça-feira, 11 de setembro de 2012

O homem coadjuvante

Michael Collins - astronauta americano e tripulante da Apollo 11, que não pisou na Lua


A sociedade humana reserva poucas vagas para o protagonismo, conforme se verifica em uma observação atenta de nossa história. Isso se explica, em grande parte, pelas diferenças naturais entre os indivíduos, sendo que, dentre todos, apenas alguns possuem habilidades distintas o bastante para que mereçam um destaque, o que gera a idolatria e o grau de influência sobre os demais. Porém, em alguns casos, o sujeito não alcança tal destaque tão somente por detalhe, seja por azar ou por ser, naquele momento, necessário o papel de coadjuvante, mesmo que habilidoso o suficiente para ser a grande estrela do show.

Um dos grandes protagonistas da humanidade foi, certamente, o astronauta Neil Armstrong, cuja notoriedade se deu por ter sido ele o primeiro homem que pisou na Lua. Embora, com razão, ele negasse a alcunha de herói, inevitavelmente ele se tornou símbolo máximo da capacidade humana para grandes feitos. Ao lado dele, porém, estiveram Buzz Aldrin e Michael Collins. O primeiro é relativamente citado, lembrado de vez em quando. O último, ao contrário, é simplesmente esquecido! E isso tem explicação: Collins foi o único dos três que não pisou na Lua. Para que o homem atingisse o feito de estabelecer suas pegadas em solo lunar, nas figuras de Armstrong e Aldrin, era necessário que alguém pilotasse o Módulo de Comando, o qual ficara em órbita do nosso querido satélite, a fim de que todos pudessem regressar à Terra.

Quer coisa mais ingrata do que estar do lado da Lua e não poder saltitar sobre o seu solo? E mais: com uma viagem de volta na companhia de duas pessoas que tiveram a grande satisfação de serem os primeiros seres vivos a realizar tal feito. Evidentemente, Collins sempre se mostrou orgulhoso de fazer parte desta equipe e de insculpir o seu nome na história, como um dos tripulantes da mais audaciosa viagem humana. Porém, penso ser, em seu íntimo, bem possível que tenha havido uma tremenda frustração por estar ao lado do pote de ouro sem que pudesse ao menos tocá-lo. Ao mesmo tempo, é de se notar que, não fosse a sua presença, seria impossível tal feito, sendo de indubitável relevância a sua participação. Contudo, ao chegar na Terra, o que ele viu foi uma coroação de seu colega Neil Armstrong, como se ele fosse o grande e único herói da missão, a despeito dos outros dois tripulantes e dos milhares de funcionários da Nasa que trabalharam duro para o sucesso da viagem. Aliás, diga-se de passagem: quando digo milhares, em relação à Nasa, são milhares mesmo! Havia 400.000 funcionários à época do voo.

Não pretendo criticar a humanidade por buscar um protagonista para suas conquistas, mas meramente atentar para essa característica que nos é peculiar, bem como para o fato de que, sem os coadjuvantes, não é possível a realização dos grandes feitos. A primeira ida do homem à Lua, em 1969, retrata perfeitamente a desigualdade humana: um brilha, um quase brilha, um é apenas lembrado e milhares sustentam aqueles que estão no topo da cadeia. Em proporção, espelha perfeitamente o nosso cotidiano e o funcionamento da vida em sociedade.

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