O palavrão, além de
designar palavras extensas, é conceituado como uma expressão de
baixo calão, geralmente com tom ofensivo. Por tal
natureza, é costumeiramente repreendido o seu uso, sendo o sujeito
educado, desde infante, a não o proferir em público. Porém, por
mais deselegante que possa parecer a sua utilização, é inegável que o
palavrão cumpre uma fundamental função social!
Ora, e qual seria a
função social do palavrão? Simplesmente todas ligadas à
manutenção da sanidade mental, o que implica em uma propensão à
sadia relação do ego com o meio social.
Imaginemos uma cena
corriqueira, tal como um quase acidente entre carros. Passado o
susto, é comum verificar que ambos esbravejam e soltam o vasto
repertório de palavras ofensivas, independente da culpa de um ou
outro para aquele ato. Até o arrefecimento dos ânimos, segue-se o
palavreado. E se o sujeito não soltasse essa raiva mediante as
palavras, o que poderia ele fazer? Das duas, uma: ou ele chegaria às
vias de fato em todas as oportunidades, ou ele seguraria isso
consigo, até que não fosse mais possível manter-se são. Como
poderia alguém tocar a sua vida, se todas as raivas fossem
acumuladas? Daria pane no sistema, sem dúvida.
Além disso, o palavrão
tem o condão de aproximar as classes sociais. Todos são idênticos,
ao soltarem tais verbetes! Não há distinção de vocabulário, aí!
Todos reconhecem um filho da puta, não? Agora, quantos reconhecerão
um sacripanta? Imaginem uma cena na qual alguém te passa a perna. O
que tu dirias? “Mas que sacripanta”? Ou, “mas que filho da
puta”? A última, com certeza, condiz mais com o grau de sua
indignação perante a trapaça da qual foi vítima. Não à toa que
todos a utilizam, em detrimento do pudor.
Um cenário perfeito e
que realiza essa função social com louvor é o estádio de futebol!
Em que pese alguns arruaceiros que fazem de tudo para estragar o
espetáculo, o estádio é frequentado pelas ditas “pessoas de
bem”. Não gosto de maniqueísmo, mas vamos aceitar como “pessoas
de bem” aquelas que se mantêm dentro dos limites aceitáveis de
convivência social, que não transgridem seriamente as regras da
esfera criminal e civil. Pois bem. Quase todas as pessoas desse
espectro (não vou dizer todas, pois sempre há alguém demasiado
purista – geralmente é um chato de galocha, mas deixa pra lá)
soltam os mais variados palavrões, seja em direção ao árbitro,
adversário, técnico ou a algum jogador ruim do próprio time. É
como se fosse uma bolha social em que se permite tal comportamento, a
fim de que as pessoas retornem ao cotidiano mais leves. O futebol é
uma ferramenta completa de controle social, e muito devido a isso.
Outra característica
do palavrão é quanto ao fato dele ser aceito em piadas e nos atos
sexuais. Como é fácil perceber, tratam-se de ambientes
transgressores, no bom sentido. A piada só é engraçada quanto
transgride o bom senso, e o sexo é melhor na medida em que é mais
proibitivo e privado. E o palavrão surge como um instrumento eficaz
para a satisfação de ambos nichos. Assim como nem toda piada tem
palavrão, nem todo sexo conta com palavras picantes e proibidas. Mas
quando damos mais risada? E quando nos excitamos mais? Para bom
entendedor, poucas palavras bastam...
Desta forma, sugiro uma
reflexão: que tal darmos mais valor ao palavrão? Em vez de nos
fiscalizarmos, como se fôssemos patrulheiros da moralidade, por que
não nos soltarmos e permitirmos a sua utilização com
tranquilidade? Palavrão é tudo de bom! Palavrão salva vidas! Salve
o palavrão!
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